Nove motivos para explicar o inexplicável
- decasweb
- 26 de jun. de 2022
- 8 min de leitura

Olá,
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Após os últimos resultados obtidos pelo América no Brasileirão, uma antiga e velha preocupação que parecia não mais nos pertencer voltou a nos atormentar: o risco do rebaixamento.
Em 2021 começamos mal o Brasileirão com um Lisca desmotivado e desgastado pela perda do Mineiro, pela eliminação da Copa do Brasil e pelo fato de ficarmos sem vencer por sete jogos consecutivos. O início ruim levou o América a trocar o comando da equipe e até por isso, somente após a conquista dos 45 pontos teoricamente necessários para a permanência, a imprensa e a própria torcida, pararam de falar e se preocupar com a possibilidade de mais um descenso do América. Enfim, depois de décadas de tentativas sem sucesso, finalmente o clube conseguiu alcançar o seu objetivo de permanecer na elite do futebol brasileiro por mais de um ano, e se permitiu também em sonhar com a conquista de uma vaga em um torneio sul americano, o que de fato ocorreu.
Já este ano, iniciamos a Série A com a dispensa de Marquinhos Santos logo na primeira rodada da competição, não só em virtude da derrota para o Avaí, mas principalmente pelo mal desempenho do time nos primeiros meses da temporada. O retorno de Vágner Mancini ao comando da equipe, depois de um bom trabalho em 2021, fez com que o time se recuperasse no campeonato brasileiro e se posicionasse nas primeiras nove rodadas na parte de cima da tabela. Naquele momento, qualquer pessoa que ao menos cogitasse que havia algum risco de rebaixamento do Coelhão este ano, seria fatalmente taxado de corneteiro e pessimista, e até a imprensa mineira, sempre muito crítica com o clube, não deixou de elogiar o trabalho que vinha sendo realizado e dizia que o time estava encaixado e Mancini com o grupo “nas mãos”. De cinco rodadas para cá no entanto, o time desandou, e agora a torcida quer saber quais são as razões para que isto esteja acontecendo e o que será feito para que o decacampeão mineiro retome o caminho das vitórias.
Sem a pretensão de explicar o inexplicável, apresento uma lista dos prováveis motivos para o atual momento ruim do time no Brasileirão, sem avaliar no entanto, se são os únicos e os reais causadores desta queda abrupta de rendimento do alviverde e o peso de cada um deles.
O primeiro motivo seria o excesso de jogos e de viagens. Segundo um levantamento efetuado tão logo encerrada a fase de grupos da Libertadores, o América era até então a equipe brasileira que havia viajado o maior número de quilômetros no ano, muito por conta de ter participado das fases 2, 3 e de grupos da copa da CONMEBOL, somado ainda ao jogo de ida, lá em Maceió, pela Copa do Brasil. Com a nossa saída da Libertadores e tendo o “vizinho” Botafogo como próximo adversário na copa brasileira, espera-se que seja um motivo a menos para prejudicar o desempenho da equipe. Vale dizer no entanto, que apesar do maior número de km rodados, o América além de não ser o time com o maior número de jogos disputados no ano, participou de boa parte do campeonato regional com um time alternativo, e com alguns jogadores que sequer tem sido aproveitados com frequência no Brasileiro. Será que esta justificativa então procede?
A segunda motivação seria a permanência do antigo treinador de 2021 para 2022. Como todos sabem, o América fez uma pré-temporada confusa com Marquinhos Santos. Começou o campeonato regional utilizando oito jogadores do elenco que havia disputado o campeonato mineiro sub-20 mesclado com alguns jogadores mais veteranos e que não haviam tido muitas oportunidades no ano anterior e mais alguns recém-contratados. Assim iniciamos a temporada jogando com Léo Passos, Yan Sasse e Rodolfo, enquanto o time considerado principal apenas treinava para se preparar para a Libertadores. Todos os três citados saíram do clube pouco tempo depois. Primeiro erro de uma série: prá que jogaram o estadual então? Depois, em mais uma decisão equivocada, o clube optou por liberar o treinador de acompanhar as partidas do time alternativo que foi dirigido por três diferentes membros da Comissão Técnica. Estas e outras sucessivas e equivocadas decisões acabaram por gerar um grupo totalmente desmotivado com relação ao regional e a não repetição da mesma formação em quase nenhum jogo da competição, prejudicando claramente o entrosamento de um grupo bastante modificado de 2021 para 2022, onde só o trio de meio de campo permaneceu o mesmo.
Não foi surpresa portanto o time não ter alcançado as semifinais do Mineiro 2022, e nem ter conquistado a Taça Inconfidência. O time estava mal treinado e mesmo a classificação para a fase de grupos da Libertadores pode ser creditada mais a um elenco motivado por um vultoso prêmio, do que por um raro momento de competência do nosso ex-treinador. A queda de Marquinhos Santos, embora necessária, fez com que todo o trabalho feito até então fosse perdido com a chegada de Mancini. Com o novo técnico, também vieram novo modelo tático e um novo tipo de preparação física, porém sem tempo para treinar.
E aí vamos para o terceiro motivo: Mancini chegou ao clube às vésperas do 2º jogo da fase de grupos da Libertadores e logo após a derrota sofrida para o Avaí. Naquele momento o time já havia perdido todo o brilho e competitividade que havia conquistado em 2021. Aos poucos e na base da conversa e teoria, o novo/antigo treinador começou a colocar a casa em ordem e mesmo com uma campanha abaixo da desejada na Libertadores, os resultados positivos foram aparecendo no Brasileirão. Apesar disso, o grupo seguia sem um tempo maior para treinar em campo e com o passar das rodadas, o “papo” passou a não ser mais suficiente para corrigir erros recorrentes de fundamentos, daqueles que requerem um número maior de treinamentos para serem corrigidos. No entanto, para contradizer esta teoria, na rara semana "cheia" que Mancini teve para consertar o time e que antecedeu justamente o jogo contra o Flamengo, o time apresentou erros ainda mais básicos e conseguiu praticar um futebol ainda pior do que já estava jogando, sinal de que ter mais tempo de preparação nem sempre significa necessariamente ter um time mais acertado.
O quarto motivo seria o número elevado de lesões no elenco. Embora as contusões possam ser atribuídas ao excesso de jogos e viagens, mas com a ressalva já feita anteriormente, parece evidente que elas são também consequência da preparação física inicial mal feita, do erro no planejamento da temporada e da contratação de jogadores com histórico de lesões, de idade mais avançada e daqueles que chegaram ao clube fora de forma. Todos estes fatores fizeram com que a cada semana aumentasse o número de atletas afastados por lesão. Desta forma, fomos obrigados a jogar cada partida com um time e formação diferentes e com a mesma falta de tempo para realizar treinamentos. Não por coincidência, os maus resultados começaram a ficar mais frequentes.
A quinta justificativa, por incrível que pareça, é a volta dos lesionados. Com a alta rotatividade do elenco por conta das contusões, jogadores mal saídos do DM passaram a ser escalados sem estar 100% fisicamente. Assim, aqueles que deveriam ser parte da solução, vem demonstrando que ainda precisarão de um tempo maior para atuar em alto rendimento e efetivamente ajudar o clube. A pergunta que se faz, é o que aconteceu com aquele grupo que no auge dos desfalques, conseguiu segurar a "barra" e obteve os resultados que nos permitiu permanecer entre os dez primeiros? Rodriguinho, Kawê e Gustavinho por exemplo, fizeram boas partidas e ultimamente raramente são relacionados para pelo menos ficarem no banco de reservas. Não seria a hora de voltar a utilizá-los com maior frequência até a recuperação total dos até então lesionados?
Pensam que acabou? Ainda temos a demora nas substituições como o sexto motivo. Por não poder contar com vários atletas em sua melhor forma, Mancini tem esticado ao máximo o tempo de permanência dos que iniciam as partidas, para que ao entrarem os recém recuperados de lesões, estes possam aguentar os minutos finais das partidas e ganhar ritmo “na marra”. O tempo excessivo em campo dos 11 iniciais gera um desgaste físico nos atletas, que acabam também por se lesionar. Uma verdadeira corrida do cachorro atrás do próprio rabo.
Outra motivação para os últimos resultados ruins da equipe (a sétima) é a arbitragem brasileira que, mesmo com um recurso fabuloso como o VAR, consegue julgar o mesmo tipo de lance de maneiras totalmente diferentes, de acordo com a interpretação de cada árbitro em campo, de cada juíz que está na cabine do VAR e de acordo com as cores dos times que estão jogando. Embora não possamos esconder os erros do time, é visível a má vontade com o América na marcação de faltas, cartões e penalidades. Cabe porém, uma pergunta a nós mesmos: em um campeonato extremamente equilibrado, o que tem pesado mais contra o Coelhão, as arbitragens ou a quantidade de gols perdidos pelo time?
Outro fator que merece ser citado (não percam as contas, é o oitavo) é a falta de reconhecimento das limitações do próprio elenco, especialmente do momento negativo que o time atualmente atravessa. Por melhor que tenham sido as nossas partidas contra equipes de maior investimento como o Corinthians, São Paulo, Fluminense, Botafogo e nosso rival local, é evidente que não podemos jogar o tempo todo e todos os jogos com linhas altas e oferecendo o contra-ataque aos adversários. Vencer é ótimo, mas manter uma regularidade no pontuar, permite uma campanha menos traumática e dramática a todos os envolvidos. Contra o Flamengo, quem deveria oferecer a bola ao adversário era o América, não o contrário. Quem deveria jogar em contra-ataques em um Maracanã lotado, éramos nós, e não o Flamengo. Mancini errou na escalação e no posicionamento tático. Havia um buraco claro no meio de campo e ele mexeu inicialmente no ataque, deixando o time ainda mais vulnerável. Derrota por 3 gols de diferença foi pouco se considerarmos as chances proporcionadas e perdidas pelo nosso adversário.
Por fim, embora acredite que existam outros motivos, o clube como um todo, Diretoria, Comando Técnico e elenco, precisa pensar alto, conforme já mencionado no post passado. Não dá prá começar um ano com o discurso de que a principal meta na competição é a de não cair. É muito pouco se considerarmos as carreiras vitoriosas dos jogadores e técnico que dispomos e do próprio clube. É limitar por baixo os objetivos de um grupo que tem potencial para voos mais altos. Continuo acreditando que o melhor ainda está por vir, a partir do momento que Mancini puder contar com o elenco completo e melhor fisicamente. No entanto, a tabela nos reservou partidas bastante difíceis para as próximas rodadas, e em breve enfrentaremos o Internacional, Bragantino e Palmeiras ainda no turno. Embora a vitória tenha que ser o primeiro objetivo de qualquer equipe esportiva, precisamos ser inteligentes e entender que em determinadas situações o mais importante é pontuar. Para que o 2º turno seja menos sofrido, precisamos terminar a primeira fase do Brasileirão com pelo menos 23 pontos e nos faltam 8 pontos para isso.
Apesar da minha confiança, precisamos urgentemente de novas peças para o elenco, em especial para o nosso meio de campo. Lucas Kal está longe de ser o bom volante do ano passado e Zé Ricardo apesar da entrega e identificação com o clube é limitado. Flávio, descartado pela torcida, também é fraco e já nem aparece mais no banco de reservas. Juninho e Alê, por características próprias e até pelas idades que já tem, não aguentam efetuar o combate na 1a linha e ainda ter que voltar para fazer a recomposição. Índio Ramirez embora tecnicamente bom, é irregular e não marca. Precisamos de alternativas no elenco para tentar manter a mesma pegada nos dois tempos e em uma sequência maior de jogos. É melhor contratar agora na janela de julho do que montar um time todo novo para a Série B e recomeçar a saga que todos conhecemos. Ainda dá tempo. O que não dá é tapar o sol com uma peneira que tem a mesma quantidade de buracos que a nossa defesa.
Abraços,
Cesar Webby
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Crédito: Foto América FC.
América caiu muito de produção com a volta do Mancini vamos enguanto a tempo pois só não vamos amargar o desenso que será mais uma catástrofe. Lotti.
Parabéns pela análise! Bastante lúcida e assertiva.
Entendo que o desgaste de alguns jogadores, a necessidade de muitas alterações em virtude das contusões, a limitação técnica de alguns jogadores no meio-campo, a previsibilidade do esquema tático do América (que pode ter sido mantido justamente pela necessidade de entrada de vários jogadores pelas contusões de outros) e a falta de gols nos trouxeram ao momento atual. Nem tudo está perdido. Tivemos bons momentos e mereceríamos ter melhor sorte em alguns jogos.