A Caixa-Preta (e Verde) Americana
- decasweb
- 10 de jul. de 2022
- 7 min de leitura

Olá,
Sejam muito bem vindos ao blog!
Para aqueles que possuem o hábito de ler este blog ou que pelo menos leram o último post, devem se lembrar que citamos alguns fatos estranhos que estavam acontecendo dentro do América, e por coincidência um assunto que dominou o noticiário do decacampeão nesta rara semana sem partidas pelo Brasileirão ou Copa do Brasil, foi o desligamento do goleiro Jailson do clube, cuja situação no alviverde foi justamente uma das estranhezas apontadas.
Outra notícia de muito destaque nos últimos dias foi a reunião do conselho consultivo do América, onde teria sido abordada a venda da SAF do clube para o empresário Robert Platek, dono do Spezia, da Itália, do Casa Pia, de Portugal, e do Sonderjyske, da Dinamarca. Seria apenas mais um capítulo da saga para se tornar um clube empresa e até talvez passasse desapercebido de todos, caso os dois assuntos não se somassem a vários outros que fazem parte de uma caixa-preta (e verde) existente no Coelhão, da qual poucos conseguem ter acesso e é repleta de estórias secretas ou mal explicadas para o torcedor comum.
Para quem não está ligando um assunto ao outro, o termo caixa-preta é uma denominação que se dá aos gravadores de dados e vozes, fundamentais para esclarecer as causas de acidentes aéreos. No sentido figurado, o Dicionário Online de Português define "caixa-preta" como uma “função ou sistema parcialmente conhecido e, em função disso, pode apresentar surpresas”. Em um sentido mais amplo e popular, trata-se de algo ou alguma coisa secreta e inviolável.
Pois se dizem que o América é o time da família, poderíamos classificá-la então como uma daquelas bem conservadoras onde se acredita que os seus problemas internos devem sempre ser tratados e guardados a sete chaves em uma caixa-preta para que ninguém “de fora” tome conhecimento dos erros e falhas cometidas. Agindo assim, a imagem que se passa ou se pretende passar é a de que tudo está sempre em perfeita ordem e harmonia, mesmo sem representar a realidade.
No entanto, diferente de uma família da vida real, o América é um clube que tem torcida, sócios torcedores, conselheiros, patrocinadores, parceiros, credores, participa das principais competições do futebol brasileiro, cobra ingressos para os seus jogos, vende produtos com a sua marca e se propõe a ser transparente, inclusive para poder vender parte de sua SAF a um investidor. Tentar esconder de todos estes interessados o que acontece dentro do clube, reduz a sua credibilidade e também daqueles que estão lá dentro, mesmo que a intenção possa ser nobre como a de preservar o nome da instituição.
Para citar alguns dos casos mais conhecidos desta caixa-preta, podemos retroceder ao ano de 2014, quando o América foi denunciado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) pelo Joinville, por ter escalado irregularmente o lateral Eduardo (não o atual, um outro que nunca mais tivemos notícias) em quatro partidas da Série B, sendo punido pela perda de 21 pontos daquele ano, depois revertidos para 6. Naquela oportunidade, ao invés do clube se pronunciar imediatamente, deixou a princípio que o assunto tomasse conta do seu noticiário, que influenciasse os resultados de seus jogos e negou inicialmente o erro cometido, para só então se pronunciar oficialmente a respeito do caso e "admitir" finalmente que iria tomar as providências cabíveis. Neste meio tempo, a torcida americana se desesperava com as versões desencontradas sobre a situação e transferia toda a sua revolta pelo acontecido ao Joinville, equipe diretamente interessada no caso, quanto na verdade o erro era totalmente do deca. Até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu, quem esteve envolvido e qual a punição efetivamente aplicada ao responsável pela falha lamentável. O não acesso naquele ano, no entanto, puniu de imediato a todos nós americanos.
Outra situação típica do clube é o afastamento inesperado de um determinado jogador do time titular por “razões físicas ou médicas” para depois anunciar a negociação do atleta para uma outra equipe. É tão comum que já existe até um certo trauma na torcida com relação a isso. Um dos casos mais recentes ocorreu com o zagueiro Messias, no início de 2021, depois da conquista do acesso à Série A e da brilhante campanha na Copa do Brasil em 2020. Só depois de muito tempo e após o sucesso da nova dupla de zaga formada por Ricardo Silva e Bauermann, é que o presidente Alencar da Silveira admitiu que tinha sido pressionado pelo jogador para ser vendido às pressas e a preços módicos ao Ceará. Não à toa, um recente afastamento do volante Zé Ricardo dos jogos do Brasileirão 2022, alimentou a especulação de que o jogador já estaria negociado com o Coritiba e por isso não seria escalado como titular apesar da queda de rendimento de Lucas Kal. Verdade ou não?
Em março do ano passado, outro caso mal explicado, desta vez com o atacante Ademir, chamado de “moleque” pelo mesmo Alencar da Silveira Júnior. Envolvido em especulações para deixar o clube, o “fumacinha” se recusou a participar do jogo contra o Treze-PB, pela Copa do Brasil, por que teria sido avisado às vésperas do jogo por alguém do clube em seu quarto de hotel, que estava sendo negociado com outra equipe. Até hoje não ficou claro quem teria sido esta pessoa que avisou ao jogador, embora em entrevista concedida pelo Lisca após sua saída do Coelhão, tenha ficado a impressão de que teria sido ele mesmo, o ex-treinador, o causador da confusão.
Recentemente tivemos a notícia do desligamento do Diretor Erley Lemos, da Direção Executiva de Marketing e Negócios do América, anunciada pelo próprio profissional à algumas pessoas, ao invés de uma comunicação oficial do clube em seu site, como normalmente faz quando deseja tornar público um fato relevante. A saída de um diretor com tanto tempo de clube e em uma área sensível, não merecia um comunicado com as razões para a mudança? Como será que patrocinadores e parceiros comerciais receberam e reagiram a esta alteração inesperada numa diretoria que trata de negócios de milhões de reais por ano?
E como se só um caso Eduardo não fosse o suficiente, há cerca de 20 dias, o outro lateral Eduardo, afastado há tempos do time em virtude de uma cirurgia para a retirada de tumor ósseo em sua perna, deu uma entrevista ao portal Superesportes, revelando que está recuperado e pronto para jogar. Mas segundo sua versão, embora ele queira permanecer no América, este não é o desejo de todos do clube e que internamente existem pessoas que não confiam nele, e que no momento certo falará a respeito quando tudo virá à tona, possivelmente quando se desligar do decacampeão. Se existe desconfiança dentro do clube em relação ao profissional, por que não dispensá-lo e o clube não se posiciona a respeito? Será que o departamento médico do alviverde não confia que o atleta tem condições reais de continuar atuando como jogador profissional?
Para que a relação dos casos da caixa-preta não fique ainda maior, voltemos ao caso Jailson. Esta semana o técnico Vágner Mancini em entrevista ao portal GE, admitiu, depois de muita fofoca na imprensa e nas redes sociais, que o ex-goleiro palmeirense não quis continuar no clube, muito em função de não ter sido escalado como titular nos últimos jogos recentes após ter se recuperado de um cansaço muscular e de uma amigdalite. Embora esclarecedor, foi preciso quase uma semana inteira para que alguém no clube se pronunciasse a respeito, e mesmo assim, só porque foi convidado por uma equipe de jornalismo da rede detentora dos direitos de transmissão do Brasileirão. Não seria mais certo que o departamento de futebol através de seu diretor ou gerente tivesse se prontificado e antecipado a dar explicações sob o ocorrido antes do técnico ao invés de um simples comunicado de desligamento? E quanto à situação do goleiro Matheus Cavichiori que teria manifestado o seu desinteresse em permanecer no clube? Silêncio total?
Atitude certa mesmo foi o posicionamento do clube em relação ao novo investidor da SAF, que por questões de obediência às cláusulas específicas de confidencialidade, impedem que o América se pronuncie oficialmente sobre as negociações em curso. Só esperamos que exista realmente um investidor.
Antes que surjam questionamentos a respeito, este post não pretende tumultuar o ambiente do nosso deca, nem de alimentar fofocas sem pé e nem cabeça dentro dele, mas de deixar claro que assim como qualquer time e como em qualquer família, existem momentos felizes e tranquilos, mas também os de problemas e perturbações, e em ambas as situações o melhor a se fazer é compartilhar com os interessados o que está acontecendo, e lembrar que no caso do clube, a torcida faz parte deste universo.
Fica aqui um aviso e alerta aos demais torcedores americanos. Embora a imprensa mineira não faça muita questão de noticiar as coisas que acontecem no América (principalmente as boas), quando o fizerem, não partam do princípio que a intenção seja só de querer tumultuar o ambiente do clube como alguns quiseram se convencer a si mesmos e a outros membros da nossa torcida. Se a imprensa chegou ao ponto de dar importância a algum acontecimento dentro do decacampeão mineiro, talvez seja porque a leiteira já esteja apitando faz tempo e ninguém parou para avisar que o leite estava transbordando. Não acreditem em todos os ruídos que ouvirem, mas desconfiem do silêncio da caixa-preta (e verde) americana.
Ah, e se vocês acharam que a caixa apresentada na imagem deste post é mais verde do que preta, talvez seja porque nunca tenham reparado que a caixa-preta dos aviões também não é na verdade na cor preta, e sim laranja...rs.
RAPIDINHAS
Que Mancini e seu grupo tenham inteligência e sabedoria e não tenham receio de ser humildes em achar que empate contra o Internacional lá em Porto Alegre nesta segunda-feira já será um ótimo resultado. Com atuais 18 pontos conquistados e tendo pela frente Inter, Palmeiras, Bragantino e Atlético-GO ainda no turno, o ideal é empatar com os dois primeiros para depois vencer os outros dois confrontos. Com 8 pontos a mais nestes próximos 4 jogos, terminar o turno com 26 pontos para precisar de “apenas” outros 19 no returno já seria um grande negócio.
Depois de muito anunciar que o acerto para a permanência de Paulinho Boia só dependia de acertos finais de tramitação de papéis com o dono do passe do jogador, o Metalist, o empresário do jogador admitiu esta semana que o atleta prioriza uma transferência para um time europeu do que permanecer no América. Sendo assim, a renovação com o Coelhão ocorrerá apenas se não for acertada a transferência para algum clube do 'velho continente'. Parece que alguém nesta estória se esqueceu de dizer a verdade à torcida.
Nem abriu a janela de transferência e o América já perdeu 3 jogadores importantes para o restante da temporada: Jailson, Paulinho Boia e agora Kawê. Embora haja um desejo da torcida que venham reforços para outras posições, Mancini admitiu que o desejo é contratar jogador do meio para frente, mas não para a "volância". Isto significa que Kal continuará no time titular por muito tempo ainda. Haja coração e paciência!
Abraços e até a próxima semana!
Cesar Webby
Quer fazer um comentário? Então aproveite o espaço ao final desta página e deixe sua mensagem. Este blog é um espaço aberto a todos os americanos.
Gostou do post? Então ajude a divulgá-lo, compartilhando em suas redes sociais com outros membros da torcida americana.
Aproveite para se inscrever gratuitamente como membro do blog e receber em primeira mão o aviso de publicação do nosso post semanal. Basta fazer um comentário e registrar o seu e-mail.
Foto: Canva.com
A transparência no América está um pouco opacificada pela catarata que o atinge. Comum em clubes com gestão sem renovação. Vamos operar essa catarata e deixar as coisas mais transparentes, América! Erros acontecem! O importante é agir rapidamente e mitigar as causas dos erros. A comunicação é sempre importante e evita o disse-me-disse.
Caro César,
Como sempre, você trás um texto cheio de reflexões necessárias e que, não importa o quanto sejam analisadas, dificilmente teremos respostas concretas. A própria "SalumDependencia", que você citou em texto anterior, é algo curioso de se ver.
Falta transparência, falta diálogo com a torcida e o marketing parece cada vez mais voltado para quem não é Americano. Basta ver a eterna insatisfação de nossos colegas com os produtos e serviços que são oferecidos, inclusive aos sócios.
Parabéns pelo blog, siga produzindo bom conteúdo. Saudações.